Por: Movimento por um Partido Revolucionário (MPR-RJ)
Nessa terça-feira (28) o Rio de Janeiro sofreu a operação mais letal da história do estado. A Operação Contenção produziu, até agora, mais de 130 mortos!
Os números oficiais dizem que são 04 policiais e 60 suspeitos que, segundo o Governo, morreram em confronto. Mas nesta manhã (29), moradores colocaram na Praça São Lucas, na Vila Cruzeiro, 75 corpos perfurados por balas. Muitos deles com cordas nos pulsos e sinais de tortura. São mais de 130 mortos. Há informações de que ainda mais corpos estão sendo encontrados. O número de mortos supera o do massacre do Carandiru, de 1992.
As imagens são devastadoras. Com um grande esforço coletivo, moradores do Complexo da Penha buscam nas matas corpos ignorados na contabilidade do governo do RJ. Ao colocarem esses corpos na via pública, exigem que o Estado reconheça a autoria das execuções e se pronuncie. As vítimas são todas homens e praticamente todos negros, mortos, segundo a imprensa, com tiros na cabeça e rostos desfigurados. Exigimos as imagens das câmeras corporais dos policiais e a perícia de cada corpo.
Para justificar a operação, uma turba racista (na imprensa, no governo e nas redes sociais) se apressa em dizer que todos os mortos eram bandidos. Sabemos muito bem que basta ser negro e favelado para ser considerado bandido neste país. Os verdadeiros líderes do narcotráfico vivem em mansões e condomínios de luxo; não à toa, a maior apreensão de fuzis da história do estado foi feita na casa do vizinho e amigo de Jair Bolsonaro, num condomínio de luxo na Barra do Tijuca.
Não dá para chamar de “operação” uma ação que deveria cumprir 100 mandados de prisão e que termina com apenas 81 presos e mais de 130 mortos, deixando um rastro de sangue e uma cidade completamente paralisada e atemorizada. Isso não é política de Segurança Pública! É uma política de extermínio racista do Estado!
Agora, Cláudio Castro (PL) é o responsável por duas das três operações mais letais na história do estado. O saldo da operação é desastroso: além de mais de cem mortos e muitos feridos, nenhum grande traficante foi preso, e a região metropolitana foi completamente convulsionada, não só pela reação dos traficantes, mas pelo despreparo e descaso do próprio governo do RJ e da prefeitura do Rio de Janeiro.
Ontem, o Governador Cláudio Castro deu entrevistas que demonstravam que a Operação Contenção e as mortes de civis e policiais nada mais eram do que instrumentos de uma disputa política e uma grande propaganda para as próximas eleições. Não dá para esquecer que, há poucas semanas, Castro foi obrigado a defenestrar o deputado TH Jóias (MDB) seu amigo e aliado, preso por tráfico e lavagem de dinheiro para o Comando Vermelho (CV) que, agora, Castro diz combater.
O que está cada vez mais claro é que, nessa operação sangrenta e politiqueira, quem sofre é a classe trabalhadora e o povo negro e pobre do estado do Rio de Janeiro.
Uma operação sangrenta, racista e desastrosa
A grande verdade é que, se operações policiais letais resolvessem o problema da segurança pública no Rio de Janeiro, há muito tempo o estado e a cidade seriam o paraíso na Terra. Ao contrário, a política de enfrentamento descerebrada, racista e sanguinolenta conduzida pelo Governo Castro semeia o pânico, paralisa a cidade e mata dezenas de inocentes no meio do fogo cruzado entre o tráfico e a polícia. Mas, se esse tipo de operação é ineficiente para o trabalhador que deseja paz, é muito eficiente para (re)eleger políticos e enriquecer o mercado armamentista.
Chamamos essa operação também de desastrosa porque, até nos termos técnicos da própria noção de “segurança pública”, a operação foi um fiasco. A operação de Cláudio Castro deslocou 2.500 policiais para a região do Complexo do Alemão e da Penha, muitos deles despreparados para esse tipo de operação. Paralisou escolas, universidades, o trabalho e o comércio da segunda cidade mais importante do país.
A falta de coordenação e de previsão das consequências da operação produziram um caos na cidade. Como avaliou Jacqueline de Oliveira Muniz (UFF), “a maior guarda municipal do país deveria ter sido acionada para ordenar o trânsito, desviar linhas de ônibus, orientar fluxos de pedestres e impedir a paralisação total da cidade. Em vez disso, a cidade foi abandonada ao caos, sem controle de circulação nem apoio logístico”.
E como o prefeito Eduardo Paes (PSD) não fez isso, milhares de trabalhadores e estudantes não conseguiam voltar para suas casas ou tentavam retornar a pé, já que os empresários do transporte – menos preocupados com os motoristas e muito mais com seu rentável patrimônio – retiraram os ônibus de circulação, deixando a cidade sem BRT e sobrecarregando os trens e o metrô. Além disso, o prefeito teve a cara-de-pau de afirmar em rede de televisão que a orientação da prefeitura do Rio era manter todos os serviços funcionando, expondo assim os servidores e trabalhadores de atividades não essenciais a essa situação de violência.
Se não houvesse um imenso deslocamento de policiais para um único ponto da cidade, desguarnecendo o restante da cidade, e se houvessem acionado a Guarda Municipal, os ônibus poderiam ter circulado com segurança para garantir aos trabalhadores e à juventude o direito de retornarem para suas casas.
Não é guerra às drogas, é guerra aos pobres e negros!
A chamada “guerra às drogas” é, na verdade, uma lucrativa e violenta guerra aos pobres e trabalhadores. Sob o argumento de combater o tráfico de drogas, as polícias se militarizam cada vez mais e justificam operações violentas como esta, que assassinam e ferem e matam trabalhadores e pobres nas favelas e subúrbios do estado e não acabam com o narcotráfico e nem trazem mais segurança.
Trata-se de uma política implementada pelos EUA e difundida mundo afora a partir de 1971. No Brasil, essa política tem hoje seu principal instrumento legal na Lei Antidrogas de 2006, sancionada por Lula que, além de alimentar a “guerra às drogas”, produziu uma explosão do encarceramento no país e no Rio de Janeiro: e enquanto preserva da prisão os verdadeiros grandes empresários das drogas, joga milhares de jovens negros e pobres em prisões degradantes, que muitas vezes sequer têm vínculo com o narcotráfico.
A criminalização das drogas alimenta um mercado internacional bilionário. Estima-se que apenas 10% das receitas do tráfico de drogas ficam com os produtores. 90% do restante é dinheiro lavado no asfalto pelo sistema financeiro internacional, com sigilo e em “paraísos fiscais”. Por isso, a descriminalização das drogas seria um duro golpe nas organizações armadas de narcotraficantes que impõem um regime de terror nas favelas e subúrbios das cidades do Rio de Janeiro, e garantem lucros astronômicos para grandes empresários do asfalto.
Como conter e combater, de verdade, o crime organizado?
Ao contrário do que Cláudio Castro defende, decretar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) não vai resolver o problema da Segurança Pública do Rio de Janeiro. Se assim fosse, o Rio de Janeiro não teria mais crime organizado já que, desde 1992, o estado já teve mais de vinte GLOs, boa parte delas – diga-se de passagem – determinadas por governos petistas a serviço dos grandes empresários e da espetacularização da Segurança Pública.
Quinze anos após a operação no Complexo do Alemão, ordenada à época pelo Governo Lula em parceria com Sérgio Cabral, vemos que essa política de Intervenções Federais no Rio de Janeiro não acabou com o crime organizado. Ao contrário, em alguns aspectos, fortaleceu setores do crime organizado. É o caso das milícias que não foram combatidas pela Intervenção Federal comandada pelo general bolsonarista, Walter Braga Netto, em 2018.
O crime organizado se fortaleceu a partir da produção e comercialização de entorpecentes. E a partir da acumulação de capital oriunda da venda de drogas, o narcotráfico conseguiu se expandir e diversificar seus negócios (vendas de serviços de internet, transporte ilegal, construção imobiliária, postos de gasolina, etc.). Como essas atividades são ilegais e se fundam no comércio ilegal de drogas, exigem armamento e conflitos armados permanentes.
Por isso, não há meio-termo: para enfraquecer e acabar com o narcotráfico, que mantém a classe trabalhadora e o povo pobre refém, é preciso legalizar as drogas e colocá-las sob o controle do Estado.
É preciso desmilitarizar a Polícia Militar e unificá-la numa só Polícia Civil, de caráter mais investigativo e com ampla democracia. Nessa mal chamada “guerra às drogas”, os policiais – sobretudo os praças – são servidos como verdadeiras “buchas de canhão” numa guerra que não é sua, sem possibilidades de discutir democraticamente as operações e ações policiais. Enquanto coronéis e comandantes determinam ordens e ações suicidas do conforto de suas poltronas, soldados, cabos e sargentos – boa parte deles, negros – morrem, deixando famílias dilaceradas.
Por fim, a classe trabalhadora e os movimentos sociais do Rio devem discutir o direito e as formas de autodefesa frente à barbárie capitalista e do Estado. Devemos dar uma resposta imediata nas ruas à política genocida de Cláudio Castro.
Esse governo não pode seguir de pé! Fora Cláudio Castro!
