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A proposta de Trump não é um tratado de paz, é um plano de colonização: A luta continua. A guerra não acabou

Há grande repercussão internacional sobre as declarações de Trump de fim da guerra em Gaza, com a população palestina comemorando o cessar-fogo.

A interrupção dos bombardeios, o retorno ao território, a entrada da ajuda humanitária e a libertação dos quase dois mil prisioneiros palestinos, significam um grande alívio para um povo que vem de um sofrimento indescritível.

A chegada dos prisioneiros libertados, muitos deles em cadeiras de rodas, com cenas comoventes dos que chegavam e ficavam sabendo que seus filhos, pais e esposas haviam morrido nos bombardeios, mostrava um misto de alegria pelo reencontro e de terrível dor pelas perdas. O resgate desses reféns das garras do sionismo, 250 deles condenados a longas penas, alguns a 25 anos de prisão, outros à prisão perpétua, expressa bem o poder da resistência palestina, enormemente fortalecida pela massiva solidariedade internacional.

Nós nos solidarizamos e compartilhamos tanto dessa dor, como dessa alegria pelo alívio alcançado. Esse alívio é muito importante para recuperar forças. Mas a luta continua. Até agora, não houve nenhum acordo de paz. O que há é um acordo de troca de reféns para interromper os bombardeios.

A guerra não acabou. O Hamas não aceita entregar as armas e nem a intervenção estrangeira, política e militar encabeçada por Trump. Pelo contrário, avançou em recuperar militarmente o território deixado pela retirada parcial das tropas israelenses.

Os bombardeios foram interrompidos, mas não os ataques. O Hamas está enfrentando máfias palestinas financiadas por Israel, o que já provocou mais de 20 mortes após o cessar-fogo.

O plano de colonização de Trump

Trump interveio porque, sob a condução de Netanyahu, Israel vinha perdendo a guerra politicamente, como evidenciado pelo seu isolamento internacional. E do ponto de vista militar, não alcançava seus objetivos: libertar os reféns e derrotar o Hamas.

Trump interveio para conseguir o que Netanyahu não pôde e, dessa forma, aprofundar a colonização. Seu plano de colonização recebeu o apoio de todos os setores imperialistas e da maioria dos governos do mundo, incluindo o de Lula, de quase todos os regimes árabes e inclusive da Autoridade Palestina.

Esse apoio mostra a verdadeira cara desses governos, alguns dos quais se diziam “amigos” dos palestinos e enchiam a boca para falar de genocídio, como é o caso de Lula que, ao mesmo tempo, mantinha as relações econômicas e diplomáticas com o Estado genocida de Israel.

Revela a verdadeira face de todos eles, porque o que estão apoiando é um falso “plano de paz”, que visa consolidar a ocupação do território de Gaza por tropas estrangeiras, acabando com a autonomia mínima que Gaza teve nos últimos 18 anos, apesar do cerco a que foi submetida por Israel.

Se Trump conseguirá impô-lo ou não, é outra questão. Mas esse é o seu objetivo, e mesmo alguns analistas burgueses mais sérios são forçados a admiti-lo. É difícil negar isso quando, entre os 20 pontos do “acordo” proposto, está presente o seguinte: 9-Gaza ficará sob uma administração transitória chefiada por um comitê palestino tecnocrático e apolítico, com supervisão de um novo organismo internacional, a “Junta de Paz”, presidida por Donald Trump. 13-O Hamas e outras facções renunciam a todo papel no governo de Gaza. Toda a infraestrutura militar será destruída e não reconstruída. 15-Os Estados Unidos trabalharão com parceiros árabes e internacionais para desenvolver uma Força Internacional de Estabilização (ISF, na sigla em inglês) que se estabelecerá imediatamente em Gaza. A ISF treinará e apoiará as forças policiais palestinas em Gaza, em coordenação com a Jordânia e o Egito. Será a solução de segurança interna de longo prazo. (La Nación, 9-10-2025)

Há também interesse em lucrar com a destruição. Nos pontos 10 e 11, afirma-se: 10-Trump promoverá um plano econômico para reconstruir Gaza, elaborado por especialistas que participaram do desenvolvimento de “cidades milagrosas” no Oriente Médio. 11-Uma zona econômica especial será estabelecida, com tarifas preferenciais e acordos de acesso negociados com os países participantes.

Confirmando esse objetivo de aproveitar economicamente a destruição causada pelas bombas por eles próprios enviadas, um dos participantes das reuniões de “paz” no Egito é Jared Kushner, genro de Trump, empresário imobiliário e um dos ideólogos da “Riviera do Oriente Médio”.

Como o Hamas não aceitou o desarmamento, nem a tutela internacional do governo de Gaza, esses pontos foram deixados para uma segunda fase, sem data definida. Trump ameaça com a aniquilação total do Hamas, caso este não aceite desarmar-se. Mas, refletindo os profundos problemas que enfrenta, ante a aceitação do Hamas em entregar todos os reféns, obrigou Netanyahu a interromper os bombardeios e a aceitar um cessar-fogo permanente.

Por que Trump passa da “Riviera do Oriente Médio” para um cessar-fogo permanente?

Obviamente não é porque, depois de mais de 60 mil mortes, tenha passado a comover-se com a situação dos palestinos. Muitos analistas dizem que a mudança foi motivada pelo desejo de ganhar o Prêmio Nobel da Paz. É verdade que Trump aspirava a esse prêmio, mas a causa da mudança não está aí, e sim nas impressionantes mobilizações de massas de repúdio a Israel e apoio à Palestina. Essas mobilizações massivas na Ásia, nos Estados Unidos, na Europa, onde se destacam as duas greves gerais dos trabalhadores italianos, geraram desestabilização nos regimes árabes e fizeram com que os governos europeus, que por quase dois anos nada haviam feito diante do genocídio, começassem a fazer críticas e tomar algumas medidas tímidas contra Israel, como com o reconhecimento de um Estado palestino. Tal medida não tem nenhum efeito prático, mas implica um enfrentamento político com Israel e EUA. A esta ação desestabilizadora das multitudinárias ações de massa, se somaram as ações descontroladas de Netanyahu, como o ataque ao Catar em 9 de setembro, que criou novos problemas para Trump no Oriente Médio. 

O projeto de colonização de Trump adota essa nova forma, visando alcançar uma unificação política com o imperialismo europeu e estabilizar a relação com os regimes árabes. É uma política para proteger Israel, que estava caminhando para um desastre sob a condução de Netanyahu. 

Netanyahu não sai fortalecido

Vários estudiosos e analistas da imprensa burguesa sustentam isso. Há até quem diga que Trump tenha traído o primeiro-ministro israelense ao negociar diretamente com o Hamas e impor o “fim à guerra”, além de deixar claro que aquilo que Netanyahu não conseguiu pela força – o retorno dos reféns – ele conseguiu com a negociação.

Netanyahu está em uma situação muito difícil, sob pressões contrapostas. Por um lado, a de seus aliados de extrema-direita que não aceitam acordos com o Hamas e exigem que cumpra seu compromisso de destruí-lo, ameaçando romper o bloco parlamentar, o que pode significar a queda de seu governo e inclusive sua prisão. Por outro lado, a pressão de um setor importante da população israelense que não suporta mais as privações da guerra e da crise econômica, e que vê no isolamento internacional um grande perigo para a existência do Estado de Israel. Soma-se a isso a pressão dos familiares dos reféns, que vêm realizando importantes mobilizações, responsabilizando o governo pela vida de seus familiares.

Isso voltou a acontecer com a chegada dos reféns, onde, em meio à alegria dos familiares, há questionamentos. Na edição de 14/10 do Haaretz, afirma-se que há mal-estar com a não chegada dos corpos dos reféns mortos, mas no mesmo artigo destaca-se que: “O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que levará tempo para entregar os restos mortais dos reféns e detidos mortos durante a guerra, qualificando-o de “enorme desafio”, dadas as dificuldades de encontrar corpos sob os escombros de Gaza”. O que deixa claro que foram os bombardeios israelenses que os mataram.

Na mesma edição do jornal israelense, se publica que Yehuda Cohen, pai do refém libertado Nimrod Cohen, libertado do cativeiro do Hamas na segunda-feira, disse que seu filho lhe contou que depois que a ajuda humanitária foi bloqueada em março, ‘havia menos comida’. E ressaltou que a guerra ‘não terminou a nível nacional. Temos que garantir que os responsáveis pelo incidente, principalmente o primeiro-ministro, sejam afastados’”.

Não haverá paz enquanto exista o Estado de Israel

Isso está amplamente comprovado pelo que vem acontecendo desde 1948, com a política permanente de limpeza étnica de parte de Israel e com esses dois anos de genocídio aberto, transmitido pela televisão, diante do silêncio cúmplice da grande maioria dos governos do mundo.

É falso que Israel e os palestinos possam chegar a um acordo sobre “um horizonte político de coexistência pacífica e próspera”, como diz Trump. A solução de dois estados é falsa. Esses dois estados vivendo harmoniosamente nunca existiram e nunca existirão. Porque a existência do Estado de Israel foi, desde o seu nascimento, uma imposição através de uma ocupação militar colonial que significou a perseguição, morte e expulsão da população nativa. E sempre teve o apoio imperialista porque é seu braço armado no Oriente Médio. Por isso, nunca foi contido em suas políticas expansionistas criminosas.

Não há possibilidade de dois estados, pois os palestinos exilados não poderiam retornar, já que suas terras, casas, escolas e hospitais estão nas mãos daqueles que os expulsaram. 

A única maneira de alcançar a paz é com a destruição desse Estado sionista, nazi-fascista, e a sua substituição por um Estado palestino único, democrático, laico, não racista, onde todas as religiões possam conviver, muçulmanos, judeus, cristãos e aqueles que não têm nenhuma religião. Essa é a única maneira de avançar no caminho de uma Palestina socialista.

Esse objetivo só pode ser alcançado como produto de uma longa luta dos povos árabes, liderada pelos palestinos e com o apoio da classe operária e dos povos do mundo. É uma tarefa longa e difícil, mas não impossível. A prova é que, com a heroica resistência palestina e o massivo apoio internacional, conseguiu-se um isolamento tal de Israel que, como muitos dirigentes sionistas disseram, colocava em risco a própria existência do Estado sionista.  Mais que nunca, temos que continuar esta luta!

Pela continuidade da solidariedade internacional!

Não ao “plano de paz” de Trump defendido por Lula!

Pela ruptura das relações diplomáticas e econômicas do Brasil com Israel!

Não ao desarmamento do Hamas!

Não à ocupação militar de Gaza por uma força multinacional!

Pelo direito do povo de Gaza de eleger seus governantes!

Viva a resistência palestina!

Pela continuidade das ações de solidariedade!

Por uma Palestina livre do rio ao mar!

Pelo fim do estado sionista de Israel!

Direção Nacional do MPR